15 Outubro 2017, O Fatídico
Que nunca se repita, são as palavras que ecoam desde 2017 nas mentes de todos os Fafiotos bem como de todos aqueles que amam a natureza e os nossos espaços, no entanto, o que mudou nestes últimos quatro anos nesse sentido?
Lembramos como se fosse hoje, até porque quando arde a serra é algo que dificilmente, estando presentes, se esquece com facilidade. Passava pouco tempo das 13h da tarde, a coluna de fumo era bem visível desde o centro de Fafião, dirigimo-nos para o interior da Serra, a par deste flagelo, os outros 439 incêndios atavam os heróis deste combate ás traves. Os que sobravam, a par dos sapadores florestais de Fafião e dos homens do ICNF que iam controlando a encosta de Porta Ruivas, o vento não ajuda e os vários focos reacendiam com facilidade.
Ao final da tarde, os dois Helicópteros davam por terminado o fogo que poderia ter devastado um dos prados seculares da Vezeira se avançasse no rio, bem como a encosta toda onde descansa o Fafião e quem sabe eclodir para outras áreas onde a vegetação apresentava um alerta bem vermelho arbustivo.
O fogo propagou-se rapidamente devido aos ventos fortes provocados pelo furacão Ophelia que assolaram o litoral da península Ibérica, às temperaturas invulgares acima dos 30º e à seca na Península Ibérica de 2017. O mês de setembro de 2017 foi o mais seco em 87 anos. 81% do território encontrava-se em seca severa e 7,4% em seca extrema. O fim- de-semana de 15 e 16 de Outubro ficou marcado pela passagem da tempestade tropical Ofélia ao longo da costa portuguesa que trouxe massas de ar quente e ventos fortes que potenciaram a dimensão dos fogos.
O que mudou em Quatro Anos?
Um dos assuntos mais debatidos actualmente na aldeia é a falta de animais domésticos na Serra. As Vezeiras estão reduzidas a níveis nunca antes vistos. As poucas cabras que compõem a actual vezeira não são suficientes para serem as sapadoras de tão vasta área de serra. O Gado bovino existente não dá cabo dos arbustos que vão alastrando e invadindo os vales, criando autênticos clusters de propagação do fogo entre linhas outrora quebradas.
Para o pasto de ambos os grupos que compõem Vezeira e Feirio de Fafião, os prados estão a ficar reduzidos, os arbustos que o gado não gosta estão a roubar o seu território obrigando o gado a ser movimentado entre os prados com maior frequência, e em passagens cada vez mais fechadas. Se o fogo controlado fosse permitido a história era outra. Assim sendo, o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) vai declinando os vários pedidos feitos pela população e pelos baldios escusando-se na altura que acham que não é apropriada.
Quando é altura apropriada numa situação emergente? Esta é a questão que fica por justificar por parte das entidades competentes, tal como a questão da gestão de área dentro do Parque Nacional, que é da responsabilidade também do Instituto. Portanto, a eminência de mais um flagelo na Serra acompanha a mente dos pastores, porque temem até pelo seu gado na Serra, acima até de mais uma catástrofe natural.
Em quatro anos nada mudou, ou o que mudou foi a propagação ainda mais alastrada dos arbustos sem limpeza à vista, aumentou o receio por parte das aldeias, e por parte dos poucos grupos que usam turisticamente a serra e que se apercebem que os trilhos outrora limpos pelas cabras estão fechados. Quando pensamos que ardem apenas os arbustos, sabemos que não é verdade, há muito que aprender com o incêndio de 2017.
A Negra Aprendizagem de 2017
Há um aspecto muito relevante no incêndio de 2017, que se arrastou penosamente por mais três longos anos, os Rios e os Pântanos. De forma drástica o Rio Fafião ficou poluido, cinzas e resíduos foram arrastados para uma bacia hidrográfica, o Porto da Laje, as suas areias até à altura imaculadas ficaram negras dando lugar a pântanos, e as suas águas e fundo também escuros e opacos. Durante alguns meses ficou contido, mas a abertura das águas da hídrica levaram ao longo dos restantes dez quilómetros de rio uma poluição nunca antes vista escurecendo todas as lagoas e matando toda a fauna aquática nativa. Talvez a maior catástrofe como resultado do incêndio. Aprendemos desta história que tudo pode voltar a repetir-se, e de forma mais tempestuosa e alastrada, não nos resta apenas uma espera, quer pelo malogro quer pelas respostas das entidades existentes, e por isso fazemos uso fruto do alerta.