Répteis e Anfíbios


Indesejada, a Víbora Cornuda

   De todos os animais nativos do Parque Nacional, só existem dois cujo perigo poderá ser fatal. Um deles é o Javali, um dos mais  perigosos da Europa, e este réptil, a Víbora Cornuda cuja mordida para além de agonizante pode ser fatal. 

   Deixamos aqui uma importante ressalva, esta espécie, bem como todas as existentes no nosso país não são ofensivas, não atacam deliberadamente, apenas quando ameaçadas ou em perigo de letalidade. A Víbora Cornuda, ou Vipera Latastei é extremamente cautelosa, evita a todo o custo o contacto com o ser Humano, e quando este existe refugia-se em rochas onde se possa proteger. Antigamente perseguiam-na, a sua cabeça era vista como um objeto supersticioso de grande valor. Os animais rastejantes nunca tiveram uma vida fácil no mundo animal, e no Parque Nacional, nas aldeias, nunca lhes fizeram a vida facilitada. Hoje em dia ainda é difícil quebrar o enguiço com as populações, e o mesmo se extende às cidades. 

   Volta e meia as noticias indiciam um internamento por envenenamento, portas da morte, e todos os artigos com textos aterradores que transformam esta e todas as outras espécies na linha do medo.  


 

   A Víbora-cornuda, Vipera latastei, pode medir até 70 cm de comprimento total. Possui uma cabeça bem definida, de contorno triangular. O extremo do focinho é muito proeminente, com 3 a 7 escamas apicais que formam um apêndice nasal típico da espécie (daí o nome de cornuda). A pupila é vertical com íris amarelada ou dourada e com pigmentos escuros.

   Possui um corpo relativamente grosso e coberto dorsalmente por escamas fortemente carenadas (com uma saliência longitudinal). A cauda é curta e muito mais fina em relação ao resto do corpo. A parte superior é cinzenta ou acastanhada, por vezes com manchas amarelas, alaranjadas ou avermelhadas. Na região vertebral aparece um ziguezague mais escuro com o bordo mais contrastante. Na parte posterior da cabeça existem 2 manchas escuras que formam uma espécie de V invertido.

   Os machos distinguem-se das fêmeas por possuírem uma cauda mais larga e maior número de escamas sub-caudais (entre a cloaca e a ponta da cauda). É frequente as fêmeas apresentarem cores menos contrastantes.

   Embora esteja presente em quase todo o país as suas tonalidades diferem de região para região, sendo a que está destinada ao Parque Nacional cinzas. Estão espalhadas pelas quatro serras, e todo o cuidado é pouco, aconselhamos principalmente a quem percorre a Serra que o faça com um bastão ou cajado, eles reagem melhor à vibração destes no solo do que ao toque do calçado. 

A Rara Senhora do Parque, Víbora de Seoane

   Esta é a aparência desta víbora que para além de raros encontros, só se encontra em Portugal dentro do território de Parque Nacional. A Víbora de Seoane ou Vipera Seoanei tem normalmente um coloração castanha, tem uma distribuição descontínua com três populações isoladas e restritas a regiões montanhosas: Paredes de Coura, Soajo, Castro Laboreiro e Tourém. 

   Atinge 50–60 cm. Essencialmente diurna, pode ser nocturna nos meses quentes. O seu veneno pode causar edema, eritema, taquicardia, hipotensão, vómitos e convulsões. Alimenta-se de micromamíferos, lagartos, anfíbios e aves.

 

   A cabeça é bem diferenciada, larga e triangular, formato típico nas víboras. Os olhos são grandes e de íris amarelo-dourada ou avermelhada. A pupila é vertical, sendo uma característica típica das víboras. Na zona posterior da cabeça exibe uma marca em forma de V invertido, formada por duas manchas mais escuras. A zona dorsal é geralmente acinzentada ou parda, e apresenta um padrão característico: uma banda escura de largura variável e em forma de zigue-zague, contínua ao longo do corpo. Os flancos podem apresentar manchas irregulares dispersas. A zona ventral é negra ou acinzentada, podendo apresentar manchas esbranquiçadas. A cauda é curta e estreita, destacando-se a extremidade amarelada. Os espécimenes mecânicos são usuais, sendo homogeneamente negros.

   Trata-se de uma das duas espécies de víboras venenosas que ocorrem em Portugal. Só ataca quando ameaçada ou encurralada, preferindo a fuga sempre que possível. As dores da sua mordida são lancinantes e podem provocar náuseas e dificuldades motoras, no entanto, ao contrário da Víbora Cornuda não é letal. 

Cobra de Água de Colar, a Nadadora

   Depois das víboras, as cobras, para nós, seres fantásticos, ambos, embora estas últimas acabem por pagar um pouco pelo medo às primeiras, cujos venenos são fortes e perigosos. A Cobra de Água de Colar é uma das espécies que podemos encontrar com maior facilidade dentro dos rios ou nas suas orlas do Parque Nacional. Desloca-se com facilidade tanto em terra como na água, onde nada à superfície. Embora não esteja ameaçada, a poluição e degradação das zonas húmidas podem colocá-la em risco.

   A Cobra-de-água-de-colar (Natrix natrix) é um réptil que pode atingir os 2 m de comprimento mas, em geral, não ultrapassa os 1,20 m. Tem a cabeça grande e bem diferenciada, com focinho largo e arredondado. O desenho e coloração são muito variáveis. Em geral, a cor de fundo dorsal é esverdeada, acinzentada ou acastanhada, sobre a qual se destacam manchas escuras com distribuição regular. No ventre é esbranquiçada ou esverdeada com manchas pretas. Existem alguns casos de melanismo e albinismo.

   As fêmeas são mais robustas e alcançam tamanhos maiores, enquanto os machos apresentam caudas proporcionalmente mais compridas. Os juvenis e sub-adultos apresentam com frequência duas manchas claras de ambos os lados do pescoço, que podem formar um colar contínuo.

   Alimenta-se sobretudo de anfíbios de todo o tipo e peixes. Os juvenis também comem invertebrados. Entre os inimigos naturais da cobra-de-água-de-colar incluem-se aves de rapina, como o milhafre e a águia-cobreira, e alguns mamíferos do Parque Nacional como são exemplo a Gineta, a Lontra Europeia.

Cobra de Água Viperina

   Esta espécie e residente dos Rios do Parque Nacional de tamanho médio, atingindo dimensões entre 65 a 130 cm de comprimento total. A Cabeça é bem diferenciada do resto do corpo, com focinho curto e arredondado. Possui duas placas pré-oculares e duas placas pós-oculares, sete supralabiais, estando a terceira e a quarta em contacto com o olho. Na cabeça, possui uma ou duas manchas escuras em forma de V invertido. O corpo é cilíndrico, coberto com escamas carenadas, dispostas em 21 fiadas, no dorso. A coloração dorsal varia entre o castanho, o amarelo, o verde e o cinzento, sob manchas acastanhadas ou negras que alternam na região média-dorsal, formando um zigue-zague ou uma série de bandas transversais. Nos flancos, são visíveis numerosas manchas que podem apresentar a forma de ocelos. O ventre pode ser esbranquiçado, amarelado ou avermelhado, com manchas negras quadrangulares.

   Não é uma serpente venenosa e entra em letargia no outono e inverno, estando ativa na primavera e no verão.

    Embora se desloque tanto em terra como na água, mas quando é observada na água invariavelmente encontra-se a procurar  alimento. Esta espécie é aquática e terrestre; menos ágil em terra; alimenta-se principalmente na água; e  quando ameaçada pode fingir-se morta, exalar uma secreção fétida e tentar morder. Embora as suas mordidas não apresentem qualquer perigo são sempre desagradáveis. 

Lagartixa de Bocage

   A lagartixa-de-Bocage (Podarcis bocagei) é uma espécie endémica do Noroeste da Península Ibérica. Durante a época de reprodução os machos exibem cores vibrantes, o que os distingue das fêmeas que apresentam cores mais neutras.

   Devido ao facto de a lagartixa-de-Bocage ser uma espécie comum em quase toda a sua área de distribuição, de ser pouco exigente em termos ecológicos e de as populações aparentarem estar estáveis, foi classificada em Portugal e a nível Mundial com o estatuto de conservação “Pouco Preocupante”.

   A lagartixa-de-Bocage é um endemismo do Noroeste da Península Ibérica, o que significa que apenas existe nesta região do planeta. Distribui-se principalmente a Norte do rio Douro, sendo o limite Sul da sua distribuição sensivelmente entre os 25 a 30 km de distância deste rio. Nesta região encontra-se em locais não muito afastados do litoral, mas à medida que se avança para o norte, a espécie pode ser encontrada mais para o interior, sendo progressivamente mais rara à medida que se faz notar com maior intensidade a influencia mediterrânica. Pode ser encontrada por toda a Galiza e atinge as províncias de Zamora e Leon, as Astúrias e a Cordilheira Cantábrica, com a exceção de algumas zonas mais áridas. Em Portugal está fortemente relacionada com o clima de influência atlântica, não penetrando em áreas de marcada influência mediterrânica do Nordeste Transmontano. Ou seja, existe de forma contínua na metade Oeste do país sobretudo a norte do rio Douro (com exceção de uma pequena área que se estende desde o litoral a norte de Espinho até às Serras da Freita e Gralheira), sendo também encontrada na região mais ocidental e húmida de Trás-os-Montes.

O Simpático Sardão

   O Sardão (Lacerta lepida) é o maior lagarto da Península Ibérica, podendo alcançar 80 cm de comprimento total. De aspecto robusto, possui uma cabeça proeminente, membros fortes e cauda muito comprida.

   O dorso é verde e amarelado, com manchas escuras. Nos flancos apresenta 3 ou 4 filas de manchas azuis (ocelos) por vezes rodeadas de preto. A cauda tem a mesma coloração do corpo excepto quando se trata de uma cauda regenerada (estes lagartos podem soltar a cauda se se sentirem ameaçados, após o que a cauda volta a crescer, regenerando-se). O ventre é esbranquiçado ou amarelado.

   Os machos distinguem-se das fêmeas por possuírem uma cabeça consideravelmente mais larga e por terem o início da cauda mais largo.

   Aparece tanto ao nível do mar como em regiões de montanha. Ocupa principalmente zonas de mato mediterrânico com áreas abertas. Aparece também na periferia das cidades e em terras de cultivo. Prefere locais com abundância de abrigos (acumulações de pedras, muros, arbustos espessos) e com boa exposição solar, evitando locais húmidos e sombrios como as matas demasiado densas.

   Consome sobretudo insectos (perfazem cerca de 70% da sua dieta). Porém também se alimenta de caracóis, lesmas, lagartixas, cobras de água e outros répteis, pequenos mamíferos, ovos e crias de aves, frutas e restos vegetais. Os adultos também podem predar juvenis da sua espécie.

   Entre os seus inimigos naturais incluem-se algumas cobras, várias rapinas (falcões, açores, milhafres e águias),outras aves como a cegonha e a garça comum, e mamíferos como o saca-rabos, o toirão, a fuinha e o lince.

Exóticos Geresianos, o Lagarto de Água

   Lagarto robusto, com aproximadamente 13 cm (cabeça + corpo). Nos machos a coloração dorsal é intensa, habitualmente verde-alface, podendo apresentar também tonalidades amareladas; o dorso é fortemente pintalgado de negro; a zona ventral é amarelada, podendo encontrar-se manchada de negro. Durante a época de acasalamento, a garganta dos machos adquire uma coloração azul bastante garrida, que se alastra com frequência à cabeça; fora da época de reprodução a garganta é esbranquiçada. A escama occipital tem forma de trapézio, sendo relativamente grande. As escamas da garganta têm rebordo arredondado e não são imbricadas. As fêmeas têm uma coloração dorsal esverdeada ou acastanhada e exibem manchas negras e irregulares ao longo do corpo; a zona ventral é amarelada e sem manchas. Geralmente, as fêmeas são maiores e os machos mais robustos em termos de cabeça e corpo. A cauda é notoriamente longa, podendo alcançar o dobro do comprimento do corpo (é mais comprida nas fêmeas).

   Espécie de hábitos diurnos, permanece activa desde Fevereiro/Março até Outubro, passando os restantes meses em hibernação.A temperatura corporal de um indivíduos activo é de cerca de 31 a 32ºC. O período de reprodução ocoore na Primavera/início do Verão, podendo observar-se os acasalamentos entre Abril e Julho. As posturas são compostas normalmente por 6 a 17 ovos, sendo as mesmas efectuadas em locais desprovidos de vegetação. A eclosão dá-se após 2 a 3 meses de inscubação. A maturidade sexual é normalmente atingida entre os 3 e os 4 anos de idade. A longevidade máxima é de 11 anos. A sua dieta assenta essencialmente em pequenos invertebrados, nomeadamente mosquitos, moscas, gafanhotos e escaravelhos. Pode libertar a cauda quando se sente ameaçado.Ocorre em zonas com uma grau de humidade médio: nas proximidades de cursos de água com boa cobertura vegetal de espécies autóctones , que no caso do Norte do país, são o amieiro, o vidoeiro, o castanheiro e o carvalho-alvarinho.
   É uma espécie muito sensível à qualidade da água.

Os Corpulentos Sapos Comuns

   O sapo-comum (Bufo bufo) é um anuro (anfíbio sem cauda) de grandes dimensões que pode atingir 21 cm de comprimento. Possui olhos laterais e proeminentes, a pupila é horizontal e a íris é geralmente avermelhada. As glândulas paratóides – 2 glândulas ovóides situadas na parte posterior da cabeça – são proeminentes e estão mais próximas anteriormente do que posteriormente. Os membros são robustos, os anteriores têm 4 dedos curtos e grossos e os posteriores possuem 5 dedos com membranas interdigitais até metade do seu comprimento. A pele é rugosa com verrugas salientes no dorso. A sua cor varia muito, podendo ser castanha, amarelada ou quase negra. Ventralmente são esbranquiçados ou amarelados. Os machos são mais pequenos que as fêmeas e, nalgumas populações, apresentam membros posteriores mais compridos. Durante a época de reprodução apresentam rugosidades escuras nos 3 dedos mais internos da mão. Os girinos são muito pequenos, atingindo no máximo 3,5 cm de comprimento, são de cor negra e as suas membranas caudais são translúcidas com ou sem pontos escuros. Os olhos são dorsais.

   Antigamente esta espécie era muito abundante, no entanto, a alteração dos locais de reprodução e dos seus habitats está a provocar um declínio generalizado em grande parte da Península Ibérica. A perseguição pelo Homem é outro factor a ter em conta. Além disto, todos os anos morrem muitos sapos nas estradas, vítimas de atropelamento, principalmente na época de reprodução, altura em que os indivíduos necessitam de se deslocar até zonas com água.

   Ocupa uma grande variedade de biótopos, em zonas húmidas ou secas, abertas ou com vegetação densa, em meios naturais, cultivados e também nas imediações de áreas habitadas. Os adultos têm hábitos terrestres excepto durante a época de reprodução. Pode encontrar-se tanto ao nível do mar como acima dos 2000 metros.

Entre os seus inimigos naturais incluem-se cobras de água, víboras e várias aves de rapina (milhafres, tartaranhões, águias, mochos e corujas). A lontra adopta uma estratégia de predação muito particular, virando os sapos do avesso de modo a não entrar em contacto com a sua pele que contém toxinas.

   Algumas populações são afectadas por uma mosca parasita cujas larvas se introduzem nas narinas dos indivíduos para se alimentarem dos seus tecidos, acabando por lhes provocar a morte.

Licranço, uma Espécie Diferente

   O licranço (Anguis fragilis), também conhecido por cobra-de-vidro, é um sáurio (lagarto) sem membros, de aspecto serpentiforme, com corpo muito alongado e cilíndrico. A cabeça é curta e a cauda encontra-se pouco diferenciada do corpo. Geralmente alcança 20 a 22 cm de comprimento total e pesa entre 8 e 40 gramas.

   Os exemplares desta espécie possuem escamas muito lisas e brilhantes o que os torna inconfundíveis. O dorso é creme, pardo ou castanho e os flancos são da mesma cor ou mais escuros do que o dorso. Por vezes, apresentam uma linha vertebral mais escura. O ventre é acinzentado ou preto. Os juvenis possuem o dorso esbranquiçado, avermelhado ou prateado, onde se destaca uma linha vertebral escura.

   Os machos são relativamente mais robustos do que as fêmeas e possuem uma cabeça consideravelmente maior e mais diferenciada do resto do corpo.

Fotografias de Rui Lemos e Norberto Esteves

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